Só Uma(s) Estreia(s). O que ver, onde ver #3
Bestas fictícias e um fim de semana em Fest, crimes em pontes e Jessica Alba em acção. O verão assim tem mais graça.
Uma semana com chuva e sol, o melhor é mesmo sair de Lisboa para ir celebrar os 20 anos do Fest, Novo Cinema, Novos Realizadores, um festival que visitei o ano passado e se tornou num dos meus sítios favoritos para ver cinema. Foi lá que entrevistei nomes como Yorgos Mavropsaridis, editor predilecto de Yorgos Lanthimos, um dos realizadores do momento que está prestes a estrear, em Portugal, o seu novo filme “História de Bondade”, estreado em Cannes. Este ano, fruto de ter sido pai há pouco tempo, só conseguirei ir lá este fim de semana já com trabalho para fazer: conversar com Melissa Leo, atriz de filmes como “The Equalizer” ou “The Fighter”, no qual venceu um Óscar em 2011 mas também o argumentista de “Manchester by The Sea”, Keneth Lonergan. Vou aproveitar também para conversar com o diretor do Fest, Fernando Vasquez e com Jo Monteiro, diretora de casting da série “Glória”. Vão ser 48 horas frenéticas. Espero ter tempo de ver algum cinema — sobretudo curtas nacionais em competição — e de, claro, aproveitar os restaurantes à beira da praia, numa cidade que tem um bocadinho de aura de esquecimento da qual gosto muito.
Estes próximos dois meses são bons para tirarmos o pulso ao cinema português, sobretudo o que vive fora de Lisboa. O Fest, com bons números de espectadores para a realidade dos festivais portugueses (acima dos dez mil o ano passado) teve (e terá até dia 1 de julho) uma boa seleção de curtas-metragens portuguesas tal como o Curtas Vila do Conde, que decorre a partir de 12 de julho até ao próximo dia 21 de julho. Convinha era que esses espectadores fossem também portugueses já que, por exemplo, em Espinho, num evento mais virado para quem começa a dar os primeiros passos nesta indústria, costumam estar muitos estrangeiros. Seria bom vermo-nos por lá.
Sugestões da semana
Cinema
“The Beast”, filme de Betrand Bonello
Filme francês que estreia esta quinta-feira e passou pelo Indie Lisboa. Saí da sala de cinema sem saber bem o que pensar. Um par romântico que vive três histórias em períodos diferentes. Danielle (uma sempre maravilhosa Léa Seydoux) quer purificar o seu ADN para esquecer momentos das suas vidas passadas. George Mackay também não está nada mal, em vários idiomas, e prova que os actores britânicos continuam a saber agarrar o drama como ninguém mesmo que seja no campo da ficção científica. A inteligência artificial a entrar diretamente no amor. O medo como motor e inibidor. Passados tantos dias, continuo sem saber classificar este “The Beast” e essa é talvez a melhor crítica que vos posso deixar. Estamos, sem dúvida alguma, diante de um dos filmes mais originais do ano.
“Les Nuits En Or”
O Cinema São Jorge vai receber as “melhores curtas-metragens do ano” de todo o mundo” entre 2, 3 e 4 de julho. Eu vou estar no Algarve mas vocês não. Quer dizer, não sei, mas presumo que não façam férias já em junho. São 32 títulos mostrados através de uma parceria entre a Academia Portuguesa de Cinema e a Academie des César: ficção, animação, documentário. E mais uma oportunidade para rever na grande tela o enorme “Ice Merchants” do João Gonzalez.
Netflix
“Alerta de Risco”, filme, Mouly Surya
Jessica Alba foi, em tempos, uma das atrizes queridas de Hollywood — “O Quarteto Fantástico - Surfista Prateado”, “Sin City” e um par de comédias — mas, entretanto, parece ter desaparecido do mapa, ainda que tenha continuado a trabalhar. Ou pelo menos eu andei muito distraído. Sim, foi de facto distração, porque Alba é também empresária e resolveu abrir a The Honest Company Inc que fez 319 milhões de dólares em vendas no ano de 2021 porque vende coisas para bebés a torto e a direito. Ora, “Alerta de Risco” não é sobre bebés e retrata um regresso de Parker, militar das forças armadas, à sua cidade natal para perceber o que se passou com a morte do seu pai. Muita acção e Jessica Alba. Sem bebés. Porque não?
Prime Video
“Roger Federer Doze Últimos Dias”, Asif Kapadia
Jogava elegantemente como nenhum outro. Ganhou Grand Slams, foi número um, entrou num court de ténis cerca de 1500 vezes. Roger Federer só há e haverá um. Em 2022 decidiu jogar o seu último jogo, ao lado de Rafael Nadal, seu maior rival no ténis, na Taça Laver. Perderam. Este documentário certinho olha para os dias de nervos, e de algum sofrimento por quem estava prestes a reformar-se aos 41 anos, do suíço, junto da sua família, amigos, amigos-atletas e equipa de negócios. É inteiramente feito para os fãs. Mas não se perda nada em ficar a conhecer o lado mais melancólico de Federer. E de rever aquela mangífica esquerda a uma mão. Também podem ler a minha crítica ao filme na revista E do Expresso da próxima semana, pronto.
Filmin
Um verão com Fincher, Coppola e Frank Capra (e muito mais)
A Filmin não me paga para promover mas, a cada newsletter, fico mais convencido de que deveria subscrevê-la em vez de pagar outra plataforma de streaming qualquer. Este verão vão reforçar o seu catálogo com filmes do Coppola, que está quase a estrear o “Megalopolis” e estreia, dia 4 de julho, uma belíssima cópia restaurada do seu filme maldito “One From The Heart”, de David Finger, brian de Palma, Ang Lee, Fritz Lang e Frank Capra. Para quem precisa seriamente de se instruir sobre o cinema clássico como eu, pode não ser má ideia espreitar esta coleção.
Disney Plus
“Debaixo da Ponte: O Assassinato de REena Virk”, Quinn Shephard
Com as inúmeras séries e filmes que saem todos os meses durante um ano, é normal que alguma coisa me escape. E também é normal que os melhores conteúdos do ano passem debaixo do radar de muita gente. Esta semana apanhei um artigo na imprensa portuguesa que falava muito bem desta minisérie baseada no livro de Rebecca Godfrey sobre a morte de uma miúda de 14 anos após uma festa de amigos. Tem Riley Keough e Lily Gladstone (a senhora que quase, quase, quase, ganhou um Óscar de Melhor actriz o ano passado). E é de crime. Eu gosto de crime. Não há nada que possa fazer.
ps: uma última nota para um artigo que li na Variety sobre o audiovisual português e que será o tema do próximo episódio do meu podcast, onde José Eduardo Moniz, da TVI, diz que a estação está também a apostar na ficção além de novelas. Rir para não chorar. Ao que parece, a TVI está a gravar a versão portuguesa de uma antiga série espanhola chamada “La que se avecina”. “Peripécias de uma comunidade de vizinhos nos arredores de Lisboa”. Rir para não chorar. “Prédio do Vasco”, onde estás tu?